Vida Pública
Terça-feira, 16/02/2010
Wenderson Araújo/Gazeta do Povo
Beto e Alvaro: disputa para quem sai ao
governo do estado é exemplo da dificuldade do partido de consolidar
candidatos
Tucanos em cima do muro, de novo
Disputa entre Alvaro Dias e Beto Richa expõe
dificuldade do PSDB de tomar decisões
Publicado em 15/02/2010 | André
Gonçalves, correspondente
Em 2002, após oito anos de gestão Fernando Henrique Cardoso, a
legenda dividiu-se entre o cearense Tasso Jereissati e o paulista José
Serra. O conflito, aliado à falta de planejamento para a sucessão,
ajudaram a minar a campanha de Serra, que teve dificuldades de chegar ao
segundo turno. No primeiro, ele fez apenas metade dos 39 milhões de
votos de Lula e abriu só cinco pontos porcentuais de vantagem sobre o
terceiro colocado, Anthony Garotinho (então no PSB) – 23% a 18%.
“A verdade é que o PSDB não se preparou como deveria para permanecer
no poder, erro que aparentemente não está sendo cometido agora pelo PT”,
diz o cientista político Bruno Reis, da Universidade Federal de Minas
Gerais. Segundo ele, o partido sofre por se manter amarrado às próprias
raízes. “A origem do PSDB vem de uma elite acadêmica dos anos 1980, que
mantém até hoje o discurso e o jeito de atuar daquela época. No fundo, o
partido nunca deixou de ser uma turma, uma patota, sempre com um ar
meio amador.”
Quatro anos depois do primeiro revés, a legenda não conseguiu
aproveitar o desgaste político provocado pelo escândalo do mensalão para
dar o troco nos petistas. Recém-eleito prefeito de São Paulo, Serra
declinou de uma nova candidatura em 2006, que caiu no colo do então
governador paulista Geraldo Alckmin. Sem carisma e ofuscado por Serra e
pelo governador de Minas Gerais, Aécio Neves, Alckmin ainda conseguiu
levar a disputa para o segundo turno, mas ficou bem longe de superar
Lula.
Crise paranaense
No Paraná, o mais famoso racha tucano dividiu o partido em torno de
uma aliança com o PMDB do governador Roberto Requião, em 2006. Em
convenção estadual realizada em junho daquele ano, o grupo liderado pelo
ex-presidente da Assembleia Legislativa Hermas Brandão conseguiu
oficializar a aliança por uma diferença de cinco votos (205 a 200).
Brandão seria o candidato a vice na chapa e acabou sendo substituído às
pressas por Orlando Pessuti, que já ocupava a vaga.
O ex-deputado estadual chegou a fazer campanha pelo interior como
candidato, mas a decisão da convenção foi revertida no Tribunal Regional
Eleitoral do Paraná por ações movidas pelo próprio diretório estadual
do PSDB, que já era presidido pelo deputado estadual Valdir Rossoni.
Além disso, a decisão contrária à coligação com o PMDB tinha o apoio da
executiva nacional tucana. Na época, o acordo favorecia Alvaro, que
concorria à reeleição no Senado sem adversários conhecidos.
O trato, no entanto, era visto com receio por Alckmin, já que Requião
garantiu que ficaria neutro na disputa presidencial, mas vinha de um
histórico de apoio a Lula. E na reta final do segundo turno, Requião
realmente apoiou o petista. O rival do governador, senador Osmar Dias
(PDT), ficou do lado de Alckmin.
“Fizemos o que tinha de ser feito, privilegiamos o plano nacional.
Tanto que o Alckmin venceu o Lula no Paraná”, lembra o deputado federal
Luiz Carlos Hauly, um dos que lideraram o grupo contrário à aliança com o
PMDB. Para ele, as disputas internas não podem ser encaradas como um
problema. “Ter muitos nomes dispostos a se candidatar significa que
construímos lideranças.”
Hauly também defende que o partido acerta ao privilegiar os planos
nacionais. “Já estamos consolidados em torno do Serra. No Paraná,
passamos por um exercício de diplomacia política entre Alvaro e Beto, o
que é natural.”
Também deputado federal e possível candidato ao Senado, Gustavo Fruet
segue a linha do colega e afirma que a receita para não criar fissuras
na disputa paranaense é focar na campanha presidencial. “O importante é
manter a unidade do projeto nacional, que é o objetivo comum do partido.
Nesse momento de articulação de candidaturas as tensões são normais,
mas essa dissidência tem que acabar aqui.”
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