Quando um "sábio" usa sua rudez e ignorância para atingir alguém.
O universo jornalístico se deparou, nesta terça-feira, com um artigo
de Demétrio Magnoli extremamente ofensivo, agressivo, grosseiro, contra
dois repórteres da Folha de São Paulo. O mais estarrecedor é que o
artigo foi publicado na própria... Folha de São Paulo. Está certo que
Magnoli é um dos meninos queridos do Instituto Millenium, e que só está
seguindo a orientação (vocalizada por Arnaldo Jabor, mas certamente
difundida por todos os "sócios" deste novo Ipes) de aumentar a agressividade, mas a Folha
desta vez perdeu as estribeiras. Publicar uma grosseria contra seus
próprios repórteres mostra-se não apenas uma odiosa intimidação ao
trabalho livre da imprensa, de sua própria imprensa; é também uma
indesculpável deslealdade.
Magnoli só agiu assim porque eram dois repórteres modestos, não-famosos.
Seria mais honrado se ousasse atacar nominalmente o colunista Elio
Gaspari, que escreveu um texto muito mais pesado contra a fala de
Demóstenes Torres do que a matéria dos repórteres da Folha. De qualquer
forma, o terno de Gaspari também deve estar molhado com os perdigotos de
Magnoli.
Tudo isso para quê? Por quê? Leandro Fortes dá algumas pistas, e eu também procuro entender por
aqui. Recapitulando: durante os debates no Supremo Tribunal Federal
sobre a constitucionalidade ou não das cotas raciais, o senador
Demóstenes Torres, do DEM, partido que desde o início se posiciona
contra as políticas afirmativas, fez um discurso absolutamente imbecil,
regurgitando as interpretações mais vulgares da obra de Gilberto Freyre.
Eu tenho o orgulho de ter lido mais de uma vez a magistral obra-prima
Casa Grande & Senzala, e sei que o senador disse uma ciclópica
asneira. Freyre é sarcástico, de uma ironia às vezes excessiva ao tratar
de fatos tão trágicos como o vício do estupro dos senhores de engenho.
Mas é ironia, e toda a maravilhosa coesão estética da obra freyriana é
sustentada por este humor brutal, cáustico, severino. Ouvir Torres falar
em "sexo consensual" entre senhores e escravos, citando a obra do
grande antropólogo pernambucano, é de revirar o estômago. O senador só
falou besteira, e o termo besteira seguramente é um eufemismo para lá de
bondoso para se referir a seu discurso. O que ele quer dizer quando
afirma que os próprios africanos participaram do processo de
escravização de seus semelhantes? Que as crianças negras de hoje tem
culpa no cartório?
E agora, o senhor Demétrio Magnoli, usa as páginas da Folha como quem
adentra um botequim sujo e, qual um bêbado furioso, começa a vociferar
descontroladamente contra quem se posicionou contra as impropriedades do
senador Demóstenes Torres.
A única explicação possível para a violência de Magnoli é o cerco
político em que se viu a oposição nas últimas semanas, e que, com a
desmoralização de Torres, despertou a fúria de um demônio acuado.
Magnoli, contratado como pitbull midiático, foi adestrado para morder
seus adversários. Parece-me, no entanto, que este que se acreditava um
terrível Cérbero começa a ficar precocemente desdentado e confuso, e
atacar os empregados do próprio dono.
copiei do blog Oleo.
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