Quarta-Feira, 03 de Março de 2010 |
Dilma nada de braçada nas águas de março
José Nêumanne
A pesquisa divulgada pelo Datafolha domingo, constatando perda
de cinco pontos porcentuais pelo candidato da oposição, o favorito
governador José Serra (PSDB), e alta idêntica dos índices de preferência
eleitoral da chefe da Casa Civil do governo Lula, Dilma Rousseff (PT),
candidata governista, não surpreende ninguém. O jargão mais repetido
sobre eleições reza que consultas à opinião pública são só retratos de
um momento. Este é o flagrante de um verão no qual o presidente Luiz
Inácio Lula da Silva passeou ao lado da candidata pelo País afora, ao
arrepio da Justiça Eleitoral, gerida por um punhado de Pôncios Pilatos
contemporâneos. E a oposição resistiu a apresentar ao eleitorado quem em
seu nome se habilitaria à disputa. E não o fez por apreço à lei e à
ordem, mas por solene desprezo pela realidade dos fatos. Dilma ganhou
terreno por estar na disputa. Sem poder sair do governo nem ter um vice
para chamar de seu, pois o partido não o definiu, Serra não entrou na
liça.
Que culpa
têm Lula e Dilma se a legislação eleitoral é casuística e vaga e o
Tribunal Superior Eleitoral (TSE) não toma as atitudes que tinha de
tomar? As leis foram feitas por parlamentares a favor do governo e
contra e o páreo está sendo corrido há um tempão. O glorioso PSDB não
entrou ainda na arena só porque não quis. Ou porque não pode. O
presidente nacional do maior partido de oposição do País, o atrapalhado
senador Sérgio Guerra, diagnosticou que Dilma cresceu porque corre
sozinha. Bidu! Entre as inúmeras tolices que andou dizendo pelo País
afora, em prejuízo apenas de seu candidato, o insigne varão pernambucano
proferiu esse acerto. Só que omitiu que Dilma só é candidata única
porque o tucanato emplumado tem candidato, mas não consegue sair do
armário. Culpa de Dilma, culpa de Lula? ( O que é que é isso, gente? Mas esse presidente capataz não merecia mesmo outro adjetivo)
Até os gansos do lago do Itamaraty sabem que
Lula é um gênio nas manhas e artimanhas políticas e goza de um momento
de popularidade espetacular. Se não perceberam isso, os oposicionistas
incautos já deveriam ter consultado otorrinolaringologista e
oftalmologista há muito tempo. Pensar que esse prestígio não será
transferido para a candidata que ele indicar é esperar que o sol do
sertão derreta a trilha do trenó de Papai Noel no próximo Natal. (Bem, se o PT ficar de sapato alto... pode dançar. Nõo acredite muito no que está escrito. Não pode baixar a guarda. Cuidado!)
A candidata do governo e do PT é inábil, bruta e jejuna em disputas eleitorais, além de padecer de uma doença grave. Na aparência, é um poste pesado demais para a musculatura do filho de dona Lindu. Na prática, sua consistente subida nas pesquisas desmente tais ilações. Mas talvez seja exagerado atribuir o sorriso que ela exibe no retrato das pesquisas apenas às virtudes do patrono. Convém prestar atenção nas lambanças dos adversários.
O
cego Tirésias, que avisou a Júlio César sobre as desgraças que o
atingiriam nos idos de março, não deve frequentar os sonhos dourados de
Aécio Neves. Os nobres conceitos que ouviu do avô, Tancredo, cujo
centenário é agora celebrado, não convenceram o governador de Minas de
que há momentos na política em que até por esperteza os homens públicos
devem recuar de suas ambições para lutar pelos interesses de seus
eleitores. Ao recusar a vice-presidência na chapa do governador
paulista, depois de preterido pelo partido, o moço mineiro dá até a
impressão de que prefere perder para Dilma, (acho que seja desespero do jornalão) apostando num mau governo
dela para ele próprio aparecer como solução em 2014, a ficar preso à
mera expectativa de oito anos à sombra do correligionário turrão. Do
ponto de vista pragmático, a opção parece esperta. Mas, se se faz
suspeito de um comportamento desse jaez, não entendeu o alerta do avô
raposão segundo o qual a esperteza é um bicho perigoso, pois, se crescer
demais, termina por devorar o dono.
Todos sabem que uma chapa Serra-Aécio sairia com uma diferença dos dois maiores colégios eleitorais do País - São Paulo e Minas Gerais - difícil de ser superada até por um matreiro do agreste como Lula. Mas essa hipótese hoje não parece plausível. Que culpa Lula e Dilma têm se os adversários não cedem sequer um milímetro em seus projetos pessoais?
Tirésias também teria dificuldades para
convencer o prefeito Gilberto Kassab a parar de prejudicar seu padroeiro
com aumento escorchante de IPTU, (seria um reconhecimento tardio do jornalão?) suspensão de merenda para crianças
pobres e fechamento de albergues para os 13 mil sem teto que dormem nas
calçadas da capital. (Afinal, que jornal estou lendo?) Figura de proa do DEM, maior mico eleitoral do País
desde que o ex-filiado José Roberto Arruda se mudou do palácio do
governo do Distrito Federal para a prisão, o prefeito paulistano age
como se estivesse disposto a salvar do afogamento as próprias fichas à
custa do cacife do governador. Se São Pedro não tem sido amigo de São
Paulo, afundando os idos de março nas águas do verão, Sua Excelência não
lhes favorece o escoamento. (putz..)
Vão tem sido ainda o esforço dos Tirésias de
plantão para retirarem com açúcar e com afeto o ex-presidente Fernando
Henrique Cardoso do embate direto contra seu sucessor petista, que só
sonha com isso, pois é o melhor meio de facilitar a transferência de seu
prestígio em votos para a candidata. Como se dispusesse, em início de
ano eleitoral, a provar que a vaidade pessoal supera seus méritos
acadêmicos, o príncipe dos sociólogos adotou o papel de Brancaleone da
descriminação das drogas, como se levar à prática uma conjectura do
mexicano Octavio Paz fosse hoje mais importante para o Brasil que a
escolha de quem subirá a rampa do poder. (Nossa, estão bravos mesmo!).
Vítima das dificuldades de Serra de exigir
cartas no jogo em que Dilma as tem dado faz tempo, a candidatura tucana é
esquartejada pela malícia oportunista de Aécio; triturada no lugar do
lixo que divide as calçadas com os mendigos na cidade de Kassab; e
pisoteada pela súbita vocação de psiquiatra, policial e assistente
social de FHC, cuja visão fatigada não o deixa perceber com clareza o
mal que as drogas fazem à sociedade e à candidatura de seu partido. (nossa, essa deve doer muito).
José Nêumanne,
jornalista e escritor, é editorialista do Jornal da Tarde
EU: Nem precidaria dizer que algumas observações à frente de algum texto ou no meio do mesmo, se é que assim devo dizer, é por razães que fico até desconfiado de que algo vá ocorrer de mais grave nas ostes do PSDB, inclusive com o mineiro. Somente tem uma coisa: Se Aécio arriar as calças... seu povo não vai gostar nadinha. "Chega de ser abridor de porteira para político paulista".
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