quinta-feira, 6 de agosto de 2009

AH, PARA VIRGILIO É ASSIM? MAS..NEM TANTO!




Ética não se devolve


Leonardo Attuch - Leonardo AttuchIsto é - 03/08/2009 IstoÉ

Se uns merecem ser cassados pelos atos secretos, Arthur Virgíliodeveria cair pela cara de pau
Agora, é fácil. Roubou, devolve. Sem pressa, em suaves prestações.
É esse o padrão que o senador Arthur Virgílio, moralista número 1 do Congresso, pretende inaugurar na Nova República. Virgílio,que pede a cassação do presidente da Casa, José Sarney, também foi pego fazendo estripulias. Recebeu um empréstimo de $10 mil do diretor-geral Agaciel Maia e bancou, com nosso dinheiro, um funcionário fantasma durante 18 meses, que recebeu R$ 210 mil enquanto estudava teatro na Espanha. Flagrado, Virgílio não perdeu a pose. Fez um depósito de R$ 60,6 mil em nome da União e promete pagar o restanteem parcelas de R$ 50 mil, à medida que vá vendendo imóveis.
Do alto de sua superioridade moral, Virgílio desafiou seus colegas a fazer o mesmo, como se fosse o mais casto dos senadores. Ocorre que a ética na política é muito parecida com a virgindade. Não se pode hipotecá-la. E, uma vez perdida, não há cirurgia que restitua a pureza original. Quando se escorrega, o procedimento natural de um homem público é reconhecer o erro, penitenciar- se e retirar o time de campo. O inaceitável, que soa como malandragem, é a tentativa detransformar vícios em virtudes. Aliás, se todos pudessem agir como o senador tucano, não haveria mais corruptos no Brasil nem a necessidade de polícia, Justiça ou coisa que o valha.
Bastaria devolver a prazo o dinheiro subtraído a vista, apenas quando os escândalos fossem descobertos. Imagine-se, por hipótese, que o padrão Arthur Virgílio valesse também para o juiz Nicolau dos Santos Neto. Ele venderia o apartamento em Miami e já estaria novamente construindo sedes faraônicas de tribunais. O ex-presidente Fernando Collor teria evitado o impeachment comprando uma nova Fiat Elba a prazo. E Delúbio Soares, José Dirceu, Marcos Valério e muitos outros personagens da cena política brasileira não estariam enfrentando tantos processos na Justiça.
O que a moral virgiliana escancara é muito simples. A atual crise do Senado não tem absolutamente nada a ver com ética ou interesse público. Trata-se, pura e simplesmente, de uma guerra política entregangues distintas. A forma mais simples de compreendê-la é enxergar o Senado como uma gigantesca boca de fumo numa favela carioca, disputada por bandos rivais. Conquistar o território é essencial para uma disputa ainda mais importante: a do Palácio do Planalto. E se uns merecem ser cassados por atos secretos, outros têm que ser cassados pela cara de pau. O problema do Brasil, definitivamente, não é a ética ou a falta dela, mas sim os éticos que se apropriam da causa.

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