terça-feira, 6 de julho de 2010

Panorama Politico - O Globo

Primeiras estorias de terça

Posted: 06 Jul 2010 02:55 AM PDT


(Panorama Político, Globo, terça-feira 06/07)

Mudar a Constituição para reeleger a si mesmo, sem ao menos fazer um plesbiscito, aí pode, né? Eu tenho, porém, uma idéia para a oposição. Impor a lei da mordaça para o presidente da república. Como qualquer fala sua pode ser interpretada como "propaganda antecipada", o melhor é censurá-lo totalmente. O presidente deve se manter de boca fechada (como bem se expressou Madame Quirrô) durante os 24 meses que antecedem as eleições. Como temos eleições de dois em dois anos, o presidente deverá permanecer em silêncio eterno. Não poderá sequer escrever ou publicar nada. Apenas seu olhar suplicante, ou alegre, ou triste, ou desesperado, será permitido. Assistiremos, então, o presidente mostrar-se na TV por longos e silenciosos minutos, fazendo pequenos e sutis movimentos de sobrancelha (haverá polêmica, naturalmente, se também estes gestos não constituiriam propaganda), esgares com a boca, alguns sorrisos discretos e constrangidos e, claro, o olhar profundo, terno, bondoso, paternal (que igualmente será alvo constante de críticas da oposição).

Acho ainda que a oposição está sendo demasiado branda quando pede "cassação" e "inelegibilidade" para o presidente que fizer propaganda antecipada. É melhor que se imponha logo a pena de morte, antecedida por sessões públicas de tortura, com empalamento, exibidas ao vivo pelas redes abertas de televisão.

*


(Ainda no Panorama)

O PSDB está tendo bastante sucesso na compra de ativos podres do lulismo. Conseguiram Maluf, Roberto Jefferson... acabam de faturar o Roriz. E agora, no Pará, venderam o DEM para adquirir um Jader Barbalho. Quem sabe os tucanos, com um pouco de esforço, não conseguem um bom preço pelo Collor? O Sarney, assim que terminar seu mandato como presidente do Senado, deverá estar novamente disponível. Só não pode brigar com DEM, ai ai ai, isso é feio, meninos. Já não tinham feito as pazes?

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(Panorama, novamente)

Eu já ficara sabendo desses pendores monárquicos por parte de nosso silvícola-mor pelo blog do Brizola. Fico feliz que a grande imprensa também tenha dado atenção ao fato. Mas não quero ser maldoso como os vilõeszinhos do Graeff. Nosso índio apoia o abaixo-assinado, e não as idéias do autor do abaixo-assinado. Mesmo assim, a notícia revela um pouco do universo político deste representante da "juventude". Em vez de se preocupar com problemas menores como transporte gratuito para os estudantes, o jovem deputado combate em trincheiras muito mais caras à juventude, como esta campanha contra a devolução do canhão El Cristiano ao Paraguai.

Curioso, entrei no Facebook do parlamentar e supreendi-me. Eis um jovem voltado para as grandes causas da humanidade! Trata-se mesmo de um cosmopolita de alto nível, pois só apoia causas escritas em inglês. Seu Facebook informa ainda, entre parênteses, o valor que o deputado doou para cada uma: Stop Global Warming ($41,462 donated), THE RACE TO END CANCER ($75,708 donated), End Child Prostitution ($29,934 donated), No More Plastic Bags ($533 donated), Stop Animal Cruelty ($96,351 donated), etc. Só tem uma escrita em português: Turismo-uma solução para o desenvolvimento sustentável ($100 donated). Ainda não estou 100% seguro, todavia, que os valores ali mostrados são realmente as doações feitas pelo candidato. Agora entendo porque ele quis proibir a esmola. É para que as pessoas possam guardar dinheiro para doá-lo a ongs norte-americanas e européias.

Tenho a impressão que o deputado apóia as mesmas causas apoiadas pela Hebe Camargo. Na realidade, eu começo a achar que se ele tivesse um pouco mais de dinheiro, poderia ser vice também da Marina Silva.

O direito de saber

Posted: 05 Jul 2010 09:02 AM PDT

  • Analista do Estadão confirma o que eu disse:
  • Quais seriam as razões dessas diferenças de comportamento eleitoral entre os sexos? A resposta parece estar mais no desconhecimento de Dilma por parte do eleitorado feminino do que em uma maior rejeição das mulheres à sua candidatura. É 50% maior o grau de desconhecimento de Dilma entre as mulheres do que entre os homens (12% a 8%).
  • Procuradora perde o decoro e revela baixos sentimentos políticos quando afirma, em entrevista ao Estadão, que:
  • Não sou eu quem multa, Lula é que não consegue ficar com a boca calada.

A declaração de dona "Quirrô" é estarrecedora. O Tijolaço já teceu alguns comentários pertinentes sobre o caso; eu também tenho algo a dizer.

Em primeiro lugar, a procuradora infringiu uma regra básica: faltou com o decoro. A maneira desrespeitosa com a qual tratou o presidente da república deixou transparecer truculência, preconceito e parcialidade. Quem não sabe guardar o devido silêncio não é o presidente, e sim a procuradora, porque ele é um agente político; não apenas tem o direito de falar - tem a obrigação e o dever de falar, porque através de suas falas, ele representa aqueles que nele votaram e que ainda o apóiam. A procuradora é que deve manter silêncio, e se pronunciar somente através dos autos dos processos, porque ela não representa politicamente ninguém e deveria saber que suas palavras dão margem a interpretações.

Ao se referir ao presidente Lula com termos agressivos numa entrevista que, sabe ela, será lida por milhões de brasileiros, a procuradora dá subsídios para a oposição e pratica propaganda negativa. É a suprema ironia. Ao mesmo tempo em que acusa o presidente de falar "demais" e, com isso, fazer propaganda, ela mesma "fala demais" e faz propaganda.

A senhora Sandra Cureau tem uma visão tacanha e criminalizante da política, que não apenas traz instabilidade ao processo eleitoral como flerta explicitamente com violações absurdas das liberdades civis. Ninguém tem o direito de mandar o presidente calar a boca. Se ela acha que o presidente cometeu alguma infração, registre o feito e o envie para julgamento do Tribunal Superior Eleitoral, mas não emita juízos antecipados.

Ela pode ser xerife para os infelizes que trabalham com ela, mas não a considero xerife da MINHA LIBERDADE DE EXPRESSÃO, nem tampouco da liberdade do presidente da república, de falarmos o que quisermos. Ela é uma fiscal, não uma juíza. Claro, mesmo sendo apenas fiscal, ela pratica inevitavelmente juízo de valor, ao escolher ou não sobre o que irá representar. Por isso mesmo, todavia, deve exercer seu ofício com o máximo de reserva, evitando qualquer declaração à imprensa que resulte num factóide político com vistas a prejudicar a imagem de algum candidato.

A visão de dona Quirrô é anacrônica, porque se apega exclusivamente aos aspectos mais reacionários da lei eleitoral. A tendência, nas democracias contemporâneas, é a liberdade. As tecnologias de comunicação abriram as comportas e derrubaram os muros naturais que impediam o acesso dos cidadãos às informações políticas. É ridículo e deprimente assistir autoridades eleitorais tentando reprimir a liberdade de expressão do presidente da república. O esforço deve ser no sentido de verificar se há uso de recursos públicos em benefício de algum candidato; multar, porém, o presidente apenas porque usou o termo "sequenciamento" em público é um intolerável precedente contra a liberdade de expressão, não apenas do presidente, mas de todo cidadão brasileiro.

O próprio relator das regras para as eleições deste ano, o ministro do TSE, Arnaldo Versiani, declarou em maio deste ano:

Em linhas gerais, sou amplamente favorável a qualquer espécie de propaganda.

Na verdade, a fúria policial com que Sandra Cureau e colegas, apoiados fanaticamente por setores da imprensa, estão agindo, é altamente nociva à democracia e a prova disso é que, a poucos meses das eleições presidenciais, a maioria dos brasileiros encontra-se em estado de rude ignorância sobre quem são os candidatos e que forças políticas eles representam.


Ao cabo, todo este cerceamento acaba prejudicando principalmente as faixas mais humildes da população, que não tem acesso a blogs políticos, nem lêem jornais. Ela, Sandra Cureau, sabe muito bem em quem vai votar: se gosta de Lula, votará em Dilma; senão gosta, votará em Serra. E o pobre, não tem direito de saber?

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