terça-feira, 24 de agosto de 2010

Uma estratégia arriscada de campanha eleitoral — Portal ClippingMP

Uma estratégia arriscada de campanha eleitoral — Portal ClippingMP: "Uma estratégia arriscada de campanha eleitoral
Valor Econômico - 24/08/2010


Não é fácil para uma campanha eleitoral começar o horário de propaganda gratuita quando o candidato está em curva descendente nas pesquisas. A primeira semana de horário eleitoral gratuito, todavia, mostrou o tamanho da dificuldade da campanha do candidato tucano, José Serra (PSDB), de afinar um discurso que detenha a queda da popularidade dele e que permita uma recuperação no mínimo capaz de garantir o segundo turno das eleições.

O horário eleitoral começou na terça-feira, dia 17. Na sexta, 13, o Instituto DataFolha divulgou uma pesquisa em que a candidata petista, Dilma Rousseff, aparecia com 41% das intenções de voto e Serra, com apenas 33%. Três dias depois, o Ibope dava 43% a Dilma e 32% a Serra. No sábado, dia 20, a vantagem de Dilma aumentou, segundo nova pesquisa do DataFolha, com 47% das intenções de voto em comparação com 30% para Serra.

Não é uma situação cômoda para o candidato mais forte da oposição. Nas eleições presidenciais de 1994, 1998, 2002 e 2006, o candidato que iniciou o horário eleitoral gratuito à frente das pesquisas de opinião ganhou as eleições. O horário eleitoral acabou servindo apenas para consolidar uma tendência do eleitorado já registrada pelas pesquisas.

A estratégia de marketing eleitoral da candidata petista era a de iniciar a campanha ligeiramente à frente de Serra. O efeito de transferência da popularidade do presidente Luiz Inácio Lula da Silva para a sua candidata, todavia, surtiu um efeito maior do que o esperado. Tomada a pesquisa do Ibope, Dilma começou a campanha eleitoral oficial com grandes chances de se eleger no primeiro turno. O primeiro trabalho do comitê de campanha de Serra é garantir a realização de um segundo turno eleitoral.

Pelo que se vê na primeira semana de campanha, o tucano resolveu não bater de frente com o dono da popularidade. Preserva Lula, a quem trata como velho amigo, e desqualifica Dilma, que não teria condições de governar o país. 'Serra e Lula. Dois homens de história. Dois líderes experientes', disse o locutor do programa na televisão. No rádio, o ataque à Dilma: 'Tire a mão do trabalho de Lula/ tá pegando mal/ que o Brasil tá olhando/ Tudo o que o Lula criou/ ela diz/ fui eu, fui eu/ Tudo o que é coisa de Lula/ a Dilma diz/ é meu, é meu'. Enquanto isso, Lula aparece no programa de Dilma, ao som de um jingle na primeira pessoa: 'Deixo em tuas mãos o meu povo e tudo o que mais amei/ mas só deixo porque sei que vai continuar o que fiz', diz a música. Enquanto Serra tenta colar em Lula, Lula cola em Dilma.

A estratégia de Serra não é simples. 'Tem dia que ele critica, tem dia que quer ligar seu nome ao projeto do presidente Lula. O candidato Serra é assim', ironizou Dilma. O presidente do PTB, o ex-deputado Roberto Jefferson, aliado de Serra, no entanto, atacou na blogosfera a estratégia de marketing do candidato. 'Não adianta fingir que é Grêmio se você é Internacional. Tem que ter lado. Bota o Fernando Henrique para falar. Melhor do que aquela turma tocando pandeiro em favela fake', diz o parlamentar, numa referência ao primeiro programa, onde o jingle de campanha é tocado num cenário de favela. Fernando Henrique, segundo os jornais, reclamou da tentativa de Serra de 'colar' em Lula. E o ex-prefeito César Maia reclamou, parodiando o poema 'Quadrilha', de Carlos Drummond de Andrade: 'Serra legitima o Lula, que legitima Dilma, que não legitima ninguém'.

Em resumo, a campanha de Serra tenta uma fórmula original, segundo a qual o candidato tucano não é oposição a Lula, que é o presidente, mas a Dilma, que é a candidata do presidente. Quando fala contra programas do governo, fala em governo, não no chefe do Executivo.

O marketing que responde simplesmente a questões levantadas em pesquisas qualitativas é destituído de política. As eleições são uma disputa entre projetos diferentes. Se o ex-governador José Serra insistir em se apresentar como candidato de continuidade, sem se apresentar como alternativa a um projeto político que está em curso há quase oito anos, dificilmente conseguirá o intento de superar Dilma. Afinal, incorre num erro primário, de insinuar que é candidato de Lula, enquanto Lula fala com todas as letras que sua candidata é Dilma. É a palavra dele contra a do próprio Lula. Uma fórmula arriscada de propaganda política.



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