domingo, 26 de julho de 2009

O Caixeiro viajante


CAIXEIRO-VIAJANTE Lula na Índia em 2007: 66a missão comercial será em outubro na Bélgica
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva tomou gosto pelo papel de caixeiro viajante. Em 5 de outubro, ele segue para a Bélgica, na sua 66ª missão comercial, ansioso para garantir a presença do setor privado brasileiro nas principais mesas de negociações do mundo. Os empresários que já fizeram parte de alguma comitiva com o presidente garantem que ele realmente se empenha em aumentar o comércio bilateral.
Na última missão comercial ao Peru, Lula ouvia o presidente peruano, Alan García, reclamar da pequena participação brasileira no país, quando viu passar Flávio Machado Filho, diretor de relações institucionais da Andrade Gutierrez. Sem cerimônias, o presidente gritou: "Flávio!" Puxou o executivo pelo braço e disse: "Você conhece o presidente Alan García?" Lula virou-se para o presidente peruano e aconselhou: "Fique de olho nele." Depois disso, a construtora assinou contrato com a Vale para exploração de uma jazida de fósforo no Peru.
O executivo não estava na comitiva presidencial à toa. A construtora já tinha decidido fortalecer sua atuação fora do Brasil, com apostas na América Latina e África. No início de julho, também acompanhando a visita de Lula à Líbia, Machado Filho fechou três contratos com o governo líbio, para obras viárias e de saneamento básico ao redor da capital Trípoli, por US$ 600 milhões.
O ministro Norton Rapesta, que assumirá o Departamento de Promoção Comercial do Itamaraty na próxima semana, explica que acompanhar a comitiva do presidente no Exterior sempre garante visibilidade. "O presidente Lula aprendeu na pele que se a indústria não vende, ela demite. Por isso, ele fala com entusiasmo do Brasil moderno, tecnológico e desenvolvido", diz Rapesta. "Ele vende o Brasil."
E as grandes companhias estão aproveitando a oportunidade. A construtora Camargo Corrêa aproveitou a missão presidencial em fevereiro de 2005 para instalar seu escritório na Venezuela. Cinco meses depois iniciava as obras de re-cuperação da barragem da Represa El Guapo, a 150 quilômetros de Caracas, em um contrato de US$ 110 milhões. A Odebrecht foi a Angola em 2003, com Lula, e três anos depois criou sua Divisão de Petróleo e Gás. Em julho deste ano, a construtora anunciou sua primeira grande descoberta no país: óleo, considerado leve, de boa qualidade, a uma profundidade de 4.725 metros.
A Embraer vai renovar a frota da reestatizada Aerolineas Argentinas, por cerca de US$ 650 milhões. A EBX fechou contrato de longo prazo para fornecer minério para a chinesa Wisco. E o grupo Marfrig comprou o frigorífico Patagônia por US$ 8,5 milhões, logo após missão comercial com o presidente Lula ao Chile. "Atualmente, as missões fazem parte das atribuições dos chefes de Estado. Todos fazem isso", diz Thomaz Zanatto, diretor de relações internacionais da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp). "E o Brasil não leva só produtos. Também capta investimentos."
A forte presença de grandes empresas brasileiras no Exterior também abre espaço para as pequenas e médias crescerem. O empresário Cláudio Rosa Júnior, 44 anos, desembarcou na China pela primeira vez em 1984. Naquela época, o país asiático iniciava uma série de reformas econômicas, com a criação de Zonas Econômicas Especiais, para privilegiar a produção destinada à exportação. Ele encontrou uma excelente oportunidade para importar correntes de bicicleta. Em 2004, Rosa chegou a Pequim na maior missão brasileira que se tem na história, com outros 460 empresários liderados por Lula, que queria "invadir" a China.
Na época, ele manteve a tradição e fechou novos contratos para importar peças de bicicletas, mas tinha outras ambições. Em maio deste ano, o empresário voltou com o presidente brasileiro à China e se associou à fabricante de motos chinesa Zongshen. A chinesa resolveu investir US$ 80 milhões na CR Motors, de Rosa, que passou a se chamar CR Zongshen. O contrato prevê a construção de uma fábrica em Manaus, no Amazonas, para produzir 180 mil motocicletas por ano. "A Zongshen acredita na consolidação dos mercados por continente. A fábrica em Manaus será o centro de distribuição das Américas", conta o empresário, agora presidente-executivo da CR Zongshen.


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