Lula e os fariseusKennedy Alencar
Num país cristão e conservador, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva usou uma expressão inadequada para retratar uma realidade. Disse que seu sucessor teria de fazer alianças políticas conservadoras para governar.Assim falou Lula: "Quem vier para cá não montará governo fora da realidade política. Se Jesus Cristo viesse para cá, e Judas tivesse a votação num partido qualquer, Jesus teria de chamar Judas para fazer coalizão".Jornalisticamente, a frase é muito boa. Forte e de uma clareza ímpar em relação ao que Lula pensa. Enxergar nela ofensa religiosa é exagero. Teve até comunista mostrando inusitada indignação religiosa. Chegou a ser engraçado, farisaico até.Na entrevista à Folha, publicada na quinta-feira 22/10, o presidente Lula teve o mérito de não se comportar como fariseu. Constatou uma triste realidade do sistema político e discorreu com franqueza sobre câmbio, juros, poupança, crise econômica, interferência do Estado na iniciativa privada, imprensa, futebol etc.A entrevista retrata um presidente maduro e explica por que ele faz um governo bem avaliado e aprovado pela maioria da população. Lula se expôs com sinceridade e clareza de pensamento, algo incomum em entrevistas desse tipo. O petista não se escondeu. O governador de São Paulo, José Serra (PSDB-SP), tem razão. A entrevista mostrou bem quem Lula é. E a fotografia saiu mais positiva do que negativa, apesar dos fariseus.
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