quinta-feira, 7 de janeiro de 2010

Copiando "oleodo diabo" - EXCLENTE MATÉRIA.


Posted: 06 Jan 2010 01:42 PM PST
Um leitor pediu-me opinião sobre o artigo de Elio Gaspari, intitulado Não foi o PT nem o PSDB, foram os dois, no qual o articulista resgata um estudo estatistico do professor Claudio Salm, comparando avanços sociais nos 8 anos do governo FHC com 6 anos do governo Lula. Respondi-lhe que o Eduardo Guimarães já havia tecido comentários satisfatórios sobre o tema. Ele retrucou que o Eduardo não rebateu com números. Mesmo na caixa de comentários do blog Cidadania, observei que o artigo de Gaspari trouxe de fato um pouco de confusão a blogosfera lulista, entendendo blogosfera como esse debate dinâmico e constante entre leitores e blogueiros. Prometi ao leitor, então, dar minha contribuição ao assunto.

Gaspari é um dos colunistas mais inteligentes da grande imprensa e conquistou uma independência invejável. Publica a mesma coluna em diversos jornais do país, e não se furta a fazer críticas duras ao tucanato. Como resultado, Gaspari irrita todo mundo. No entanto, não deixa de ser irônico que os demo-tucanos reproduzam o artigo do colunista em seus sites, desesperados que estão em mostrar que FHC não foi de todo inútil ao Brasil. Antes empenhados em acusar o governo Lula de ser terrível para o desenvolvimento nacional, agora se esforçam em provar que FHC foi tão bom quanto o atual governante.

Respeito o estilo de Gaspari, apesar de também me irritar com suas argumentações, muitas das quais considero exageradas ou mesmo falaciosas, por conta da obrigação, que vejo nele, de estar sempre batendo no ferro e na ferradura.

O artigo mencionado, por exemplo, tem sua lógica. De fato, diversos índices sociais melhoraram na era fernandista. Não se discute a importância do controle inflacionário e da estabilidade monetária. FHC herdou um Estado forte de seu predecessor, Itamar Franco, que não foi um presidente de todo mal, e mesmo que fosse o pior dos governantes, não conseguiria impedir que as milhares de agências estatais subordinadas ao Executivo deixassem de cumprir o seu papel.

Muitas coisas boas que acontecem hoje no Brasil e aconteceu no Brasil de FHC não são méritos da qualidade pessoal dos presidentes e sim do talento de funcionários dedicados, parlamentares honestos e sociedade civil atuante.

FHC não é um monstro. É um cara pusilânime, isso sim. Um presidente deve aprender a jogar o jogo político, cedendo aqui para avançar ali. O que me parece é que FHC apenas cedeu. Tem o mérito de manter a estabilidade econômica, herdada de Itamar Franco, e por isso tem seu lugar na história. No entanto, o brasileiro não é doido quando faz de FHC um dos políticos mais rejeitados do país.

Avalia-se um presidente não apenas por um índice ou outro, mas pelo conjunto de seu trabalho. A deficiência da argumentação de Gaspari está nesse ponto. Ele traz um estudo muito do meia-boca, e daí conclui solenemente que "Nunca antes na história deste país um governante se apropriou das boas realizações alheias", frase que é uma tremenda besteira. Que isso significa? É uma piadinha? Mais uma das milhões que hoje se fazem com a expressão "nunca antes"? Ora, quase todo governante tenta se apropriar das boas realizações alheias. O governo Lula, ao que entendo, não inaugurou isso, e nem concordo que ele age assim tão radicalmente. Cansei de ler entrevistas com membros graduados do governo Lula, como o ministro da Fazenda Guido Mantega, ou seu antecessor, Antonio Palocci, derramando-se em elogios à FHC e sua política econômica. O próprio Lula repete incessantemente que um de seus maiores erros políticos, dele e do PT, foi fazer oposição ao plano Real.

Entretanto, o que realmente irrita no texto de Gaspari é a ausência de cientificidade. A base comparativa não é válida. Ele compara 8 anos com 6 anos, o que é um absurdo, pois as políticas estruturantes são as que mais demoram a aparecer e, portanto, tendem a se manifestar com mais clareza nos últimos anos de um governo. Mas o pior não é isso. Não há qualificação. A pesquisa é apenas quantitativa.

FHC não era um Satã instalado no Planalto para fazer o mal à população brasileira. O grande problema de FHC não foi a ausência de políticas públicas, e sim a mesquinhez de suas ações sociais, a brutalidade e frieza com que lidou com movimentos sociais e sindicatos, além do desmonte do Estado, com privatizações açodadas e irresponsáveis de setores estratégicos do país, como a mineração e a telefonia. A privatização da Vale impediu que o Estado fizesse investimentos para ampliar a industrialização do ferro no Brasil, e a entrega criminosa da telefonia a estrangeiros levou o custo da comunicação telefônica no Brasil a atingir verdadeiros recordes mundiais.

O problema, entenda-se, não foi a privatização em si, mas a maneira como ela foi realizada, sem atender aos interesses nacionais. Não houve preocupação em impedir que as companhias explorassem o preço das ligações telefônicas, sobretudo de celulares. Então o Brasil se tornou uma nação de "não-ligadores", e hoje as próprias empresas telefônicas debocham dos consumidores ao criarem um personagem publicitário, o "ligador, um jovem que se destaca de todos a seu redor porque ele "pode ligar". Uma ligação de celular no Brasil chega a custar quase 2 reais por minuto. Duvido que haja algum país no mundo com uma ligação tão cara.

Além disso, é preciso diferenciar as coisas. O primeiro mandato de FHC foi razoável. O desastre aconteceu no segundo. Até porque os métodos usados pelos tucanos para vencer as eleições de 1998 deveriam botá-los todos na cadeia. Mantiveram a moeda valorizada artificialmente, e para isso queimaram dezenas de bilhões de reais de nossas reservas internacionais. A medida foi criminosa em vários sentidos. A moeda valorizada prejudicou nossas exportações e criou uma bolha que explodiu em fevereiro de 1999, quase levando o país a bancarrota. Outro método criminoso foi a aprovação da reeleição para o próprio presidente, sem ao menos ter a delideza democrática de fazer uma consulta popular.

No segundo mandato de FHC, o desemprego aumentou. A dívida externa explodiu. Todos os índices pioraram terrivelmente. Mesmo o Plano Real aconteceu a um custo terrível. O Real sobrevalorizado derrubou as exportações, fazendo com que o Brasil, um potência em recursos naturais, atravessasse quase todo o período fernandista com enormes déficits cambiais (importava mais que exportava), e a estabilidade foi comprada com um aumento gigantesco da dívida pública, interna e externa. É fácil melhorar índice sociais pegando dinheiro emprestado aqui e no estrangeiro. Eu quero ver melhorá-los pagando a dívida externa e reduzindo a dívida pública. Os governantes devem cuidar para que esses progressos sejam sustentáveis, não apenas soluços efêmeros com vistas à ganhar mais uma eleição e, para usar o vocabulário gaspariano, ganhar mais tempo para tungar a choldra com outros bilhõezinhos da privataria.

Nem falei das ações da Polícia Federal, que vem realizando uma verdadeira limpeza ética no país, investigando governadores, empresários, desembargadores, juízes, prefeitos, parlamentares. O combate à corrupção em alta escala no Brasil iniciou-se somente agora, durante o governo Lula. A Polícia Federal de FHC servia apenas para queimar maconha diante das câmeras do Jornal Nacional.

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