sexta-feira, 6 de novembro de 2009

Cadê a direita? Os tempos são outros não só aqui


Cadê a direita?
Autor(es): Octávio CostaIsto é - 03/11/2009
Pela primeira vez, o Brasil terá uma eleição sem um candidato para defender as ideias conservadoras

Pela primeira vez, o Brasil terá uma eleição sem um candidato para defender as ideias conservadoras. Nos dias tumultuados da Revolução Francesa, os políticos comprometidos com a justiça social e com a voz das ruas sentavam-se à esquerda da Assembleia. Aqueles que defendiam os direitos das elites e as prerrogativas do antigo regime ocupavam os assentos à direita. De lá para cá, esquerda e direita tornaram-se a definição clássica das principais correntes do pensamento político. Mas, no Brasil atual, uma dessas vertentes simplesmente deixou de existir ou, pelo menos, não se faz representar. Não é por acaso que o próprio presidente Luiz Inácio Lula da Silva tem repetido com frequência que "em 2010, pela primeira vez, não vamos ter um candidato de direita na campanha". E comemora o fato: "Isso é fantástico. Era inimaginável até outro dia que chegássemos a esse momento no Brasil." Nem todo mundo, porém, se mostra surpreso com o sumiço da direita. Inimigo número 1 da esquerda no País por muitas décadas, o exgovernador de São Paulo Paulo Maluf (PP) acredita que os tempos mudaram e já não existem direita e esquerda no mundo. Com a irreverência de sempre, Maluf faz ironia com a origem histórica das palavras: "Atualmente, só falo à gauche e à droite quando pego um táxi em Paris."Em parte, Maluf tem razão. Depois do fim da Guerra Fria e da queda do Muro de Berlim em 1989, a dicotomia ideológica, de fato, perdeu nitidez. "No Brasil, não foi diferente. O espectro ideológico se concentrou numa posição de centro-esquerda", explica o cientista político Antonio Lavareda. "Com a economia mais forte, a maioria da população assumiu uma posição mais à esquerda, a favor de maior intervenção do Estado. Mas, nos valores morais, a maioria ainda é conservadora, pouco tolerante." Esse é o mercado eleitoral com o qual os políticos têm que lidar. E por isso, diz Lavareda, no período pós-democratização a classe política brasileira foi se afastando do campo da direita. Ficaram para trás os embates acalorados entre marxistas e antimarxistas. Carlos Lacerda, por exemplo, dizia que não era de direita, mas assumia que era opositor feroz do comunismo. Teve seguidores fiéis, como o jornalista Amaral Neto, defensor da ditadura militar e do Brasil Grande. Depois da abertura política, com a volta dos civis ao poder, a direita ganhou novos nomes, como Antônio Carlos Magalhães e Paulo Maluf, e principalmente Fernando Collor de Mello, que, eleito na primeira eleição direta, impôs o receituário liberal, mas decepcionou o País e renunciou para escapar do impeachment.Neste século XXI, porém, a direita não parou de encolher. Um dos motivos foi o pragmatismo do presidente Lula e o deslocamento do PT da esquerda para o centro. Encurralada no espectro político e com seu eleitorado minguando, a direita chegou ao extremo de negar as origens históricas. Herdeiro da Arena e do PDS, partidos fortes do regime de exceção, o PFL trocou o nome para DEM, na tentativa de sobreviver."Não há mais espaço para a direita clássica", admite o deputado Antônio Carlos Magalhães Neto (DEM-BA), ao justificar o zigue-zague de sua legenda. Segundo ele, "a identidade ideológica dos partidos está fragilizada e o DEM passou a ser um partido de centro-direita". ACM Neto, porém, não dá as costas ao passado: "Não tenho vergonha disso."O DEM continua a defender uma máquina governamental menos inchada, mas também prega investimentos na área social. A exemplo de Lavareda, que é filiado ao PSDB, ACM Neto faz questão de destacar que o PT também abandonou suas antigas bandeiras. "O presidente Lula, que é de um partido de esquerda, passou a maior parte de seu governo com uma política econômica ortodoxa", lembra ACM Neto, em tom mais moderado do que seu aguerrido avô.Mais experiente, Maluf acha natural a convergência dos dois campos políticos e a hegemonia das correntes de centro-esquerda."O que existe hoje em todo o mundo é a preocupação com a eficiência, o avanço tecnológico e a produtividade. O resto é conversa fiada", afirma o polêmico político. E repete, com bom humor, a frase de Delfim Netto, para quem o presidente Lula salvou o capitalismo brasileiro, ao abrir mão de impostos no auge da crise econômica internacional. O ex-prefeito Cesar Maia (DEM-RJ), que chegou a pertencer ao PDT de Leonel Brizola, faz coro com a teoria de Maluf: "Quando as políticas são iguais, os políticos pragmaticamente se agrupam em torno de personagens mais conhecidos e mais competitivos", diz Maia. Se os partidos são atraídos para o centro, seria arriscado atribuir o mesmo movimento aos eleitores. Pesquisa do Instituto GPP, de Cesar Maia, confirma a avaliação de Lavareda: o eleitor brasileiro é de direita em relação aos valores morais e de esquerda em relação à economia. "Em 2010, quem quiser que recuse o voto da direita", desafia o ex-prefeito do Rio.O deputado Jair Bolsonaro (DEMRJ) não só não recusa o apoio da direita como há muitos anos vai pescar votos nos bolsões fiéis ao ideário da ditadura militar. "Muita gente que é de direita tem medo e vergonha de dizer que é de direita, porque quem é de direita defende a família e é contra a união homossexual. Eu me considero de extrema direita, com muito orgulho", trombeteia Bolsonaro. Em seus delírios extremistas, "um governo de direita decretaria o fim da política de direitos humanos e o fim da política assistencialista, pois é preciso ensinar o cidadão a pescar". Ideias desconectadas do mundo real como as de Bolsonaro podem ser bem recebidas em guetos radicais, mas também contribuem para explicar o ocaso dos partidos de direita.No passado, diante de fiascos da esquerda, os conservadores diziam que a revolução come os próprios filhos. Hoje, no Brasil, pode-se afirmar, sem medo de errar, que a direita está órfã, sem pai nem mãe.
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