segunda-feira, 8 de março de 2010

SE ATÉ NO ESTADÃO ELOGIAM, ENTÃO O QUE QUERES MAIS? (*)



Celso Ming

O jogo mudou

7 de março de 2010 | 7h36
Celso Ming
Repete-se no Brasil uma situação antiga: “Olho-me no espelho e fico horrorizado com o que vejo; olho à minha volta e fico aliviado.”
A situação fiscal do País (área que engloba as finanças públicas) não é lá essas coisas, está cheia de buracos e pede uma administração mais responsável. Mas a situação da maioria dos países ricos está bem mais deteriorada, como a tabela mostra. Não são apenas diferenças estatísticas. É uma situação nova que produz consequências e pede do brasileiro uma nova maneira de lidar com o resto do mundo.

O Brasil encabeça a sigla Bric (Brasil, Rússia, Índia e China), inventada pelo economista Jim O’Neill, do Goldman Sachs. É um aglomerado que não integra nenhum bloco econômico nem tampouco apresenta significado geopolítico. Basta dizer que, entre os quatro, o Brasil é o único que não é potência nuclear.
No entanto, o Brasil é um desses países emergentes cuja realidade macroeconômica vai se descolando saudavelmente do resto do mundo rico paralisado por mazelas de todos os tamanhos. Não é à toa que o Brasil é a aposta da vez. Pequenos e grandes administradores de patrimônio não perguntam mais por que investir no Brasil, apenas avisam seus sócios que é preciso estar lá.
Somente essa maneira com que os outros passaram a encarar o País já deveria ter mudado a postura dos brasileiros nas suas relações com o mundo. As referências do Brasil não têm mais de ser tão pronunciadamente os Estados Unidos, a União Europeia, o Japão e as velhas potências econômicas. A referência tem de ser os novos emergentes, como a China. Não temos que nos prender tão obsessivamente a cada estatística dos Estados Unidos ou dos países do euro que pipoca nos terminais dos computadores.
Do ponto de vista dos resultados das contas brasileiras, os números do payroll (mercado de trabalho), inflação e vendas de imóveis dos Estados Unidos têm menos importância quando comparados com os que vêm de Pequim e de Nova Délhi.
As informações passadas pelo primeiro-ministro da China, Wen Jiabao, na última sexta-feira, como a do avanço projetado do PIB e da inflação (8% e 3%, respectivamente), terão mais impacto sobre as encomendas para o Brasil do que os soluços do PIB norte-americano.
Enfim, a percepção dos analistas brasileiros continua encalhada na dependência das locomotivas que já não puxam mais o comboio global como há 20 anos.
Ao longo do século 20, o país que determinava o ritmo de produção eram os Estados Unidos. Como eles tinham e continuam tendo quase tudo (alimentos, matérias-primas, energia e capitais) ignoraram o quintalzão latino-americano. Do Brasil importaram quase unicamente café e açúcar. E os brasileiros tiveram de comer o pão que o diabo amassou para construir o que está aí.
Agora, é a vez da China que precisa de quase tudo. Não tem matérias-primas, não tem alimentos, não tem energia, não tem água doce. O jogo mudou.
Apesar de tudo, o futuro do Brasil depende quase exclusivamente dos brasileiros que têm diante de si uma enorme oportunidade histórica. Se o governo Lula foi capaz de não fazer grandes besteiras na condução da política macroeconômica, por que outros governos não conseguirão?

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